Melhor rizar errado ou não rizar?
"Rizar a vela significa diminuir o seu tamanho"
Por Marcelo
Visintainer Lopes
Instrutor de Vela
Escola de Vela
Oceano
Qual
a melhor hora para rizar a vela grande?
Você
espera o leme pesar e a situação piorar ou logo alivia a pressão?
Cada
barco possui o seu grau particular de tolerância ao vento, mas em geral os
ventos acima de 20 nós começam a produzir adernações menos controladas e alguma
perda do leme (perder o controle).
Velejadores
mais conservadores preferem se antecipar e rizar a vela mais cedo e bem antes
da entrada do vento.
Muitos
deles rizam a vela antes de anoitecer, pois realizar manobras com a luz do dia
é bem mais seguro e prudente do que esperar a noite cair.
Ah,
mas e a velocidade?
Tá
com pressa de que?
Perder
um pouco de velocidade faz muito mais sentido do que perder um tripulante em
uma manobra noturna com mar ruim.
Velejadores
mais experientes e menos conservadores vão empurrando com a barriga até mais
próximo da entrada do vento e até minutos antes dele entrar.
Estes
mesmos velejadores não costumam rizar preventivamente ao anoitecer, pois devem
estar com a previsão de vento bem acertada.
Não
importa se você está no primeiro ou no segundo caso, já que o mais importante é
ter conhecimento sobre o barco, sobre a capacidade da tripulação e sobre a sua
própria capacidade técnica de fazer as coisas certas na hora certa.
Conheço
um terceiro perfil que já sai da marina com a vela rizada independente da
velocidade do vento, não importando se sopra com 10 ou com 40 nós.
Casos
extremos assim podem estar ligados a alguma experiência anterior ruim, excesso
de zelo, medo ou até mesmo pela necessidade de diminuir o peso do leme por
causa da tendência exagerada de orça (causada pelo excessivo caimento do mastro
para trás).
Neste
último caso a pessoa se vê obrigada a velejar com menos vela grande, enquanto o
correto seria ela reposicionar o mastro mais em pé.
Meu
conteúdo de hoje visa demonstrar o passo a passo do rizo para que você consiga
atingir a perfeição na manobra e para que o sistema funcione com 100% de eficácia.
O
mais importante antes de iniciar o assunto é lembrar que os cabos do rizo devem
estar sempre prontos para o uso (passados na vela), pois não há como passá-los
depois que a vela for içada.
Para
conseguir passar o cabo com a vela para cima você teria que subir na retranca e
caminhar até a ponta para fazê-lo.
Esquece isso!!
Baixar a vela
e passar o cabo é a solução mais segura neste caso, mas o ideal seria nem ter
subido a vela sem ter passado os cabos...
A
vela apresenta linhas horizontais de ilhóses pequenos com argolas ou olhéus (ilhós
grande) nas extremidades da testa e da valuma.
Cada
linha destas representa uma “forra de rizo”.
A
primeira forra é a mais de baixo (próxima da retranca).
A
segunda fica logo acima e a terceira mais acima ainda.
Caba
barco possui um número de forras de rizo diferente, mas o mais comum é duas
forras.
Cada
forra de rizo deverá possuir seu próprio cabo.
Os cabos são controlados através dos stoppers
ou diretamente por baixo da retranca, junto ao garlindéu.
Eles passam por dentro da retranca (mais comum)
e lá na ponta eles saem pelas roldanas.
Das roldanas toma o rumo dos olhéus da valuma e
depois voltam para a retranca (amarração em torno dela).
Antigamente
não tínhamos o lazyjack e o procedimento era mais fácil de ser visualizado.
O
lazyjack esconde tudo o que está ali atrás e é justamente nesta área que
devemos manter nossa atenção.
Depois
de baixar o lazyjack verifique a posição/ajuste da amarração dos cabos de rizo
junto à retranca.
A
preparação da manobra é executada com mais facilidade se o barco estiver
velejando no contravento, já que a retranca estará em cima do convés.
A
atenção na posição da amarração na retranca é em função do quanto vamos
precisar esticar a esteira.
Se
a velejada for de contravento é vital que você consiga esticar ao ponto de deixá-la
como uma tábua (sem curva).
Neste
caso você deverá correr o nó da retranca para além da vertical do olhéu do rizo
(em direção à popa).
De
10 a 15 cm mais para trás que o olhéu serão suficientes para tirar a curva da
vela.
Se
a velejada for de popa. o ponto do nó na retranca pode fica bem na vertical do
olhéu, deixando a esteira com um pouco mais de curva.
Se
o rizo for mal executado e a esteira permanecer muito gorda (para contravento),
repita a operação correndo o nó mais para trás.
Sempre
que assisto vídeos de velejadas de vento forte eu costumo prestar muita atenção
na situação da vela junto à retranca.
É
justamente ali que identifico um rizo mal executado.
Já
vi de tudo o que foi coisa, mas o erro mais comum é o cabo sair da roldana da
ponta da retranca e ser amarrado diretamente no olhéu.
Já
vi também o cabo saindo da roldana, passando pelo olhéu do rizo e retornando
para a ponta da retranca (para a alça do amantilho).
Quando
um rizo é bem executado o olhéu do punho deverá ficar a poucos centímetros da
retranca (2 a 5 cm no máximo).
A
função da passada do cabo pelo olhéu e depois a descida para contornar a
retranca na “vertical atrasada” (em direção à popa) serve para fazer a retranca
subir até a altura do olhéu (sem ficar caída na diagonal) e para distribuir, de
maneira mais harmônica, os esforços sofridos pelo punho de escota (punho do
rizo).
Nas
outras duas situações, todo o esforço sobre o punho será aplicado na diagonal,
sem a devida distribuição das forças.
A
aplicação desta força “diagonal” produz uma ruga permanente e leva à deformação
do perfil na parte inferior da vela.
Alguns
barcos mais antigos possuem uma alça específica para amarração do cabo junto à
retranca e os mais modernos já exigem uma amarração em torno dela.
A
amarração é feita com o “Nó de Rizo” ou com o Lais de Guia de correr (o nó é
dado em volta do cabo que desce do olhéu).
Os
dois nós possuem a mesma função de gerar aperto em volta da retranca quando o
cabo é esticado.
Duas
voltas de cabo em volta da retranca são mais eficazes do que apenas uma, pois elas
aumentam o atrito e diminuem a chance do cabo correr para vante quando caçado.
Observações
importantes:
-
Se você estiver navegando no contravento inicie o procedimento somente após a vela
panejar por inteiro. A panejada alivia toda a pressão do vento sobre o
procedimento.
-
Se estiver navegando com vento de popa ou través será necessário velejar no contravento
para que ocorra a panejada.
-
Barcos com lazyjack devem iniciar o procedimento arriando o lado de barlavento da
capa a fim de visualizar/corrigir o posicionamento do cabo ou uma beliscada na
vela.
-
Antes de iniciar o procedimento avalie todos os cabos envolvidos, as fixações
junto ao garlindéu (gancho do rizo), os moitões de desvio no pé de mastro e
também os nós.
-
Depois de tudo conferido, faça uma revisão do passo a passo com a sua tripulação
e também defina as funções (quem vai fazer o que e como).
-
Realizar o rizo utilizando a genoa é estratégico, já que ela ajuda no
equilíbrio do barco.
Passo
a passo:
1.Folgar
o burro.
O
burro caçado impede que a manobra do rizo seja executada com perfeição, pois
ele não deixa que a retranca alcance o olhéu do rizo no punho da valuma.
2.Folgar
a escota do grande até ela panejar por inteiro.
3.Liberar
a adriça até que a argola do primeiro rizo chegue na altura do gancho do
garlindéu.
4.Fixar
a argola no gancho.
5.Esticar
a adriça até aparecer rugas verticais bem destacadas na testa.
6.Caçar
o cabo do rizo até a vela ficar plana (curva zero no contravento e mais curva
no popa).
7.
Verificar se a vela não ficou “mordida/beliscada” junto à retranca.
Se
estiver mordida, libere imediatamente o cabo do rizo até desfazer e depois cace
novamente.
8.Caçar a
escota para colocar a vela em funcionamento.
9.Regular o
burro novamente.
10.Subir o
lazyjack.
Se você
preferir utilizar o motor ao invés da genoa, também dá, porém em dias de ondas
maiores eu aconselho a usar também a genoa para ajudar no equilíbrio.
Abrindo a
genoa e fazendo-a funcionar com certa pressão diminuiremos o balanço lateral e
o risco de algum tripulante cair na água.
Um
rizo bem feito deixa a vela parecendo uma tábua, mas não se assuste...
A
curva irá aparecer assim que o vento enfunar a vela.
Depois
de se apropriar deste conteúdo você nunca mais vai cometer erros!
Se
achou complicado faça um checklist e deixe-o na mão!
Bons
ventos!